A Informática na Educação: a percepção de professores

A informática na Educação: a percepção de professores
Suely Richetti (email: suerichetti@via-rs.net)
Edemilson Brandão (email: brandao@upf.br)
Resumo. Este artigo consiste na análise da percepção de professores frente às novas tecnologias, especialmente o computador, dentro do ambiente escolar. Durante o estudo optou-se em analisar as percepções dos professores quanto ao uso do computador nas escolas, a partir de dados e informações coletadas em um questionário on-line aplicado a professores em formação de duas turmas do curso de Pedagogia Série Iniciais da Universidade de Passo Fundo, uma do campus de Casca e outra do campus de Lagoa Vermelha. Partindo do pressuposto de que discutir a aplicabilidade do computador em educação já não é mais apenas um modismo, é uma necessidade, que se torna realidade em cada grupo de estudo ou encontro de trabalho, tanto nas universidades quanto nas escolas em geral, os dados da pesquisa revelaram que os alunos-professores parecem compreender que seu trabalho não poderá mais ser concebido isoladamente, mas em conjunto com os colegas e a partir de proposições mais amplas da tecnologia que extrapolam os limites da sala de aula. Conscientes no seu papel de aprendizes sociais, o grupo de alunos-professores demonstram saber a importância da tecnologia e de seu papel na nova sociedade e, ao mesmo tempo, revelam com clareza os seus entusiasmos e limites para enfrentar tais mudanças.
Palavras-chave: informática na educação, computador, tecnologia educacional, formação de professores.

A informática na Educação: a percepção de professores

Introdução

Parece-nos muito desafiador explorar os recursos tecnológicos presentes nas escolas. Porém, constitui um desafio ainda maior analisar o nível de conscientização e de efetiva participação dos professores no atual contexto tecnológico em que escola se encontra, verificando a compreensão do seu papel enquanto educador frente às novas tecnologias e seus reflexos na construção do conhecimento.
Além da caminhada histórica da informática na educação do Brasil, as escolas sentem cada vez mais a necessidade de elaborar um planejamento educacional voltado à utilização dos equipamentos de informática e outras tecnologias no ambiente escolar, promovendo uma permanente reflexão sobre o uso didático-pedagógico dessas tecnologias em sala de aula. 
Em meio a um cenário de profundas incertezas que envolvem a utilização de tecnologias no âmbito das escolas brasileiras, várias questões ainda em aberto orientaram a condução deste trabalho: Quais seriam as habilidades e competências necessárias aos professores para trabalhar num contexto tecnológico? Como o computador se insere no espaço escolar e no processo-ensino aprendizagem? Qual o papel do professor frente à nova realidade da sociedade do conhecimento? Como o professor se sente frente aos avanços da tecnologia em seu ambiente de trabalho? Qual sua motivação para utilizar o computador como um recurso didático-pedagógico? Que fatores dificultam ou facilitam a utilização do computador nas escolas? Quais os reflexos da Informática na Educação, na perspectiva da educação profissional?
Sem pretensão de apresentar respostas conclusivas, mas compreender como os profissionais da educação convivem com esses dilemas, partiu-se dos achados da literatura para depois analisar a percepção daqueles que ainda estão se preparando para enfrentar a realidade da "nova" sala de aula: os professores em formação - os alunos de duas turmas do curso de Pedagogia Séries Iniciais, da Universidade de Passo Fundo, uma do Campus de Casca e outra do Campus de Lagoa Vermelha, sobre temas relacionados à Informática na Educação.

Sociedade, educação e tecnologias
A sociedade atual caracteriza-se pela grande valorização da informação, a ponto de ser designada como a Sociedade da Informação, e mais recentemente, como Sociedade do Conhecimento, onde os processos de aquisição do conhecimento assumem um papel de destaque e passam a exigir, de acordo com diversos autores (Dowbor, 1993; Drucker, 1993; Maseto, 1994; Valente, 1996) um profissional crítico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, de trabalhar em grupo e de se conhecer como indivíduo. Nesse contexto, destacam a importância da escola em desenvolver novas competências e formar indivíduos com capacidades de inovação, criatividade, autonomia, comunicação.
A criação de novos conhecimentos exigidos pelo crescente desenvolvimento sócio-econômico, científico e tecnológico tem seus reflexos imediatos no mundo do trabalho, onde empresas e organizações exigem cada vez mais da escola uma postura que valorize o conhecimento e as competências profissionais, para enfrentar e responder aos desafios profissionais propostos diariamente pela sociedade.
Neste sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional faz destaque especial para a educação profissional, caracterizando-a como uma modalidade educacional articulada com as diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduzindo o cidadão trabalhador ao permanente desenvolvimento das aptidões para a vida produtiva (BRASIL, 1996).
Incorporando os recentes avanços científicos e tecnológicos de diferentes áreas do conhecimento, especialmente no campo das ciências sociais, da comunicação, da psicologia do desenvolvimento, da aprendizagem e das tecnologias da informação, espera-se que a escola ofereça um ensino atualizado, colocando professores e alunos em condições de entender e de se apropriar dos atuais recursos tecnológicos em prol da construção de novos conhecimentos.
Cabe à escola oferecer aos cidadãos as ferramentas de que necessitam, para que tenham um efetivo acesso às conquistas tecnológicas da sociedade como um todo, tendo acesso ao saber científico e tecnológico que alicerça a prática profissional e a prática social, isto é, o domínio da inteligência do trabalho. (MERCADO, 2000).
Se o processo ensino-aprendizagem existe para atender às necessidades de uma sociedade em contínua evolução, então é natural que a escola procure estar constantemente adequada às mudanças dessa sociedade. Porém, diante do atual aparelhamento tecnológico, falar em Informática na Educação não significa apenas acompanhar as tendências tecnológicas para satisfazer as exigências da sociedade, significa repensar todo um processo que envolve mudanças radicais na práxis pedagógica dos professores e no processo ensino-aprendizagem como um todo.

Novas tecnologias e novas formas de ensinar e aprender
Hoje, aprender é uma das principais preocupações das pesquisas no campo da Educação e da Psicologia Cognitiva, e ganha novo significado: envolve conhecimentos que terão que ser construídos e reconstruídos constantemente pelos aprendizes e deverá ser ampliado para além do cognitivo, implicando o desenvolvimento de habilidades consideradas fundamentais para a atuação efetiva na sociedade atual.
Para muitos professores as características fundamentais de uma escola inserida nessa nova sociedade perpassam pela configuração de ambientes especialmente criados para a aprendizagem, repletos de recursos que possibilite ao aluno a construção do seu conhecimento, sugerindo o seu estilo individual de aprendizagem. Nesse cenário, o professor que se apropria de tecnologias no seu dia-a-dia tende a mudar o seu comportamento de modo a se tornar um guia, um mediador, um parceiro do aluno na busca e interpretação crítica da informação.
Essa postura não diretiva do professor aumenta a capacidade criativa dos alunos, tendo em vista que eles passam a caminhar de acordo com suas capacidades de assimilação, escolhendo situações de aprendizagem em diferentes mídias (computadores, vídeo, internet, etc...).
Para utilizar o computador no processo ensino-aprendizagem, presume-se que os professores se sintam também comprometidos com a construção do conhecimento do seu educando e inseridos no processo político-pedagógico da escola, uma vez que a construção do conhecimento resulta da relação sujeito-objeto e da interação entre ambos.
Pode-se afirmar que o uso do computador só funciona efetivamente como instrumento no processo de ensino-aprendizagem, se for inserido num contexto de atividades que desafiem o grupo em seu crescimento. Espera-se que o aluno construa o conhecimento: nas relações consigo próprio, com o outro (o professor e os colegas) e com a máquina. (WEISS, 1998, p. 18).
A introdução de novas tecnologias na escola propicia a realização de atividades novas e pedagogicamente importantes que, antes, não se poderia realizar de outra maneira, com a vantagem de tornar a escola um lugar mais interessante, sobretudo para os alunos. 
A aprendizagem centrada nas diferenças individuais e coletivas e na capacidade do aluno enquanto usuário independente valoriza a aprendizagem e investe em meios mais atraentes de explorar as potencialidades de cada indivíduo, pois conforme Weiss
[...] não será a mera entrada da Informática que alterará o curso do processo de ensino-aprendizagem. Sua utilização, como uma nova mídia educacional, servirá como ferramenta dentro de um ambiente que valorize o prazer do aprendiz em construir seu processo de aprendizagem, através da integração de conteúdos programáticos significativos, não estanques. (1998, p. 18).
Fomentar uma prática educativa envolvendo o uso das novas tecnologias na educação exige a análise das concepções de aprendizagem e de valores cultural, sócio, político e pedagógicos da realidade, na qual o processo de informatização da escola seja um meio de ampliação das funções do professor, favorecendo mudanças nas condições e no processo ensino-aprendizagem e não como um meio de substituição da ação docente.
A interação homem-máquina no campo educacional tem sido encarada, principalmente, como relação com o hardware, elidindo-se o comprometimento cultural e político implícito (as vezes até dissimulado) no software através do qual tal relação se processa; e se recomendam: 
1. que as atividades de informática na educação sejam balizadas por valores culturais, sócio-políticos e pedagógicos da realidade brasileira;
2. que os aspectos técnico-econômicos (custos, volume de inversões, tecnologia e relações interindustriais) sejam equacionadas, não em função das pressões de mercado mas em função dos benefícios sócio-educacionais que um projeto desta natureza possa gerar e em equilíbrio com outros instrumentos em educação no país... (SEI, 1982, p. 33).
A aplicação de novas tecnologias em educação não está limitada ao simples treinamento de professores ao uso de mais uma ferramenta. O mais importante é que os professores se apropriem criticamente dessas tecnologias, descobrindo as possibilidades de utilização que elas colocam à disposição da aprendizagem do aluno, favorecendo o repensar do próprio ato de ensinar.
Falar de informática na educação não significa simplesmente ensinar técnicas de utilização de computador e seus recursos aos professores e alunos, mas trata-se de como utilizar o computador como um recurso auxiliar no processo ensino-aprendizagem. Em outras palavras, os professores das várias disciplinas curriculares precisam conhecer os potenciais educacionais do computador e serem capazes de usar o computador em benefício de suas atividades diárias. Weiss (1998, p. 15) apresenta a Informática Educativa longe do aspecto técnico, diz que se "implantada com o objetivo de enriquecer as atividades curriculares ou extracurriculares, faz do ensino de linguagens de programação e de aplicativos, não um fim em si mesmo, mas um meio de estimular e desenvolver as funções intelectivas do aluno".
Em contato com o computador, professores e alunos podem ampliar seus horizontes, desenvolver novas performances, melhorar suas relações afetivas, isso porque o computador, enquanto expoente máximo da chamada Revolução Digital, passou a constituir um importante instrumento para a aquisição de novos conhecimentos e habilidades e para o desenvolvimento da capacidade interativa e criativa na compreensão e na solução de problemas. (BRANDÃO, 2002, p. 105).
Usar o computador com essa finalidade requer a análise cuidadosa do que significa ensinar e aprender; demanda rever a prática e a formação do professor para esse novo contexto, bem como mudanças na organização da escola, daí a importância de se analisar a percepção de professores quanto ao uso de novas tecnologias em educação, significa compreender como os professores pretendem desenvolver projetos nessa área.

Organização da escola frente às novas tecnologias
Acompanhar a evolução tecnológica e científica é fundamental para que a escola possa preparar os educandos para as transformações que estão ocorrendo e as que provavelmente irão surgir com a implantação em massa de novos recursos tecnológicos na sociedade. Portanto, a introdução de novas tecnologias na escola requer que a própria escola defina que tipo de indivíduos pretende formar e que a informatização faça parte de um processo de mudança na organização escolar e no trabalho docente. 
A escola precisa de um projeto pedagógico que a organize para o propósito de trabalhar os alunos com os novos recursos tecnológicos a sua disposição, valorizando o trabalho dos mesmos na medida em que forem rendo realizados e conhecendo como manejar estes recursos.
Segundo Weiss, a escola deve ter bem definidos os objetivos do trabalho com a Informática para decidir sobre quais caminhos seguir:
O computador é um recurso caro, se comparado ao custo de lápis ou de livros, mas não é auto-suficiente para ser tratado como algo mais que um recurso didático que pode, por si só, resolver todos os problemas da escola. Sua aquisição se justifica pelas inúmeras possibilidades de utilização, que serão decisivas para o sucesso ou fracasso do trabalho desenvolvido. (1998, p. 17).
A necessidade de criação de ambientes de aprendizagem mais motivadores para que a aprendizagem se dê de forma coletiva, em que a verdade e o conhecimento sejam construções históricas que permitam a evolução do indivíduo, é o novo desafio para as escolas, e, concomitantemente, um trabalho de mudança de mentalidade do próprio educador deve ser objeto de atenção de estudos e pesquisas sobre novas tecnologias para a educação, pois é o professor o principal ator neste processo de implantação de uso de novas tecnologias na escola.

A formação do professor para atuar com tecnologias
O reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica deve ser acompanhado da conscientização dos professores sobre a necessidade de desenvolver habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias. Porém, segundo Brandão (1995), utilizar tecnologias informáticas em Educação não significa apenas adquirir novos conhecimentos e habilidades através de cursos de introdução à informática, mas principalmente a modificação de esquemas mentais e métodos de trabalho, fortemente consolidados em uma pessoa adulta.
Poderia-se até falar em um novo perfil de professor, que exige a preparação para uso da informática, não apenas sob seu aspecto tecnológico, mas, sobretudo privilegiando sua dimensão pedagógica. Brandão (1995) ainda defende a formação e a reciclagem constantes de professores, independente de promoção institucional ou por iniciativa própria, a fim de possibilitar a inovação didática tão desejada nos dias atuais.
É necessário dar prioridade absoluta à formação docente, não tanto no sentido de fornecer aos professores um conhecimento mínimo sobre Informática, e mais precisamente sobre Computação. É necessário, também, e, sobretudo, fornecer bases para o seu uso crítico, de modo a garantir que a inserção de instrumentos informáticos no processo educativo ocorra com plena consciência da sua viabilidade, validade e oportunidade no processo ensino-aprendizagem. (BRANDÃO,1995.p.42).
Com base nessa premissa, profundas mudanças estão sendo exigidas na escola, no ensino e na formação dos educadores, pois, novos modos de conceber o ensino e a aprendizagem supõem uma nova atitude por parte de professores, alunos e equipe escolar, requer um clima favorável à mudança, altamente motivador tanto para o aluno como para o professor e um ambiente facilitador, com autonomia de trabalho e liberdade, permitindo trabalho cooperativo e solidário.
Assim, no papel de agente de mudança, o professor consciente e crítico deve ser capaz de compreender a influência da tecnologia no mundo moderno e de colocá-la a serviço da educação e da formação de seus alunos, articulando as diversas dimensões de sua prática docente. O professor desempenha um papel de guia, colaborador e mediador na formação dos alunos, que são os protagonistas de sua própria aprendizagem.
O professor precisa saber orientar os educandos sobre onde colher informação, como tratá-la e como utilizá-la. Esse educador será o encaminhador da autopromoção e o conselheiro da aprendizagem dos alunos, ora estimulando o trabalho individual, ora apoiando o trabalho de grupos reunidos por áreas de interesse. (MERCADO, p. 69, 2000).
A capacitação dos professores é fundamental para o sucesso da utilização das novas tecnologias como recurso de apoio ao ensino. A formação dos professores frente à introdução de novas tecnologias exige a reformulação das metodologias de ensino e um repensar de suas práticas pedagógicas, permitindo auxiliar o professor, ampliando e fortalecendo experiências de aplicação das tecnologias no processo ensino-aprendizagem e adequando os recursos destas tecnologias como recurso didático-pedagógico.
Em se tratando de tecnologia educacional, o processo de capacitação dos professores atualmente consiste em cursos ou treinamentos de pequena duração para a exploração de determinados programas. No entanto, a capacitação em novas tecnologias deve proporcionar aos participantes, além do domínio destas tecnologias, conhecimentos em psicologia do desenvolvimento, educação e tecnologia educacional, a fim de utilizá-las com finalidade educacional. Segundo Mercado (2000), essa capacitação exige:
  • desenvolver o sentido de profissionalismo na ação docente e valorizar a prática pedagógica docente como fonte de reflexões, de pesquisa e de conhecimento;
  • desenvolver conhecimentos usando e valorizando os recursos tecnológicos nas atividades educacionais;
  • realizar a formação continuada em serviço, abrindo espaços para que professores troquem experiências, desenvolvam atividades em equipe, valorizando o intercâmbio, aprendizagem com todos os membros do grupo;
  • desenvolver a reflexão crítica e elaboração de pensamento autônomo, através da troca de experiências com seus pares, permitindo a produção de conhecimentos novos e a partilha desses saberes com todo o grupo;
  • apropriar-se das novas tecnologias como uma ferramenta e não como algo imposto externamente, enfatizando-se atitudes pedagógicas de inovação e interação nas equipes interdisciplinares.
Essa formação, além da aquisição de metodologias de ensino, objetiva conhecer o processo ensino-aprendizagem, como ele acontece e como intervir de maneira efetiva na relação professor-aluno-computador, propiciando ao aluno condições favoráveis para a construção do conhecimento.
A transformação na prática do professor exige que ele vivencie situações em que possa analisar a sua prática e a de outros professores; participar de reflexões coletivas sobre a prática, buscar novas orientações visando uma inovação em aula, conforme orienta Almeida (2000, p. 80): "As reflexões dos professores sobre a sua prática não podem voltar-se para teorias geradas em outros ambientes; devem ser construídas por eles mesmos, à medida que refletem sobre sua prática e sobre as condições contextuais que a permeiam".
Ainda, segundo Almeida (2000, p. 81):
O professor com uma atitude crítico-reflexiva diante de sua prática trabalha em parceria com os alunos na construção cooperativa do conhecimento, promove-lhes a fala e o questionamento e considera o conhecimento sobre a realidade que o aluno traz para construir uma saber científico que continue a ter significado. Para tanto, é preciso desafiar os alunos em um nível de pensamento superior ao trabalho no treinamento de habilidades e incitá-los a aprender. 
Já não é mais tempo de questionar o papel do computador no ensino, mas sim a função da escola e o papel do professor, que professor precisar deixar de ser o repassador de conhecimento – o computador pode fazer isso e o faz muito mais eficientemente do que o professor – e passar a ser o criador de ambientes de aprendizagem e o facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno (Valente, 1993, p. 6), nesse sentido, optou-se em analisar as percepções dos professores quanto ao uso do computador nas escolas, a partir de dados e informações coletadas em um questionário on-line aplicado a professores em formação de duas turmas do curso de Pedagogia Série Iniciais da Universidade de Passo Fundo, uma do campus de Casca e outra do campus de Lagoa Vermelha.

As percepções de professores quanto ao uso do computador nas escolas
Lançar um olhar para a questão da informática na escola hoje não seria necessariamente rever questões teóricas sobre a educação, mas analisar questões de ordem prática, como discutir junto aos profissionais da educação a real importância da utilização do computador em sala de aula frente as suas várias possibilidades de aplicação e às exigências da atual sociedade e do mundo do trabalho para a formação dos alunos.
Dentro desta perspectiva, partiu-se da idéia de analisar dados e informações de uma pesquisa realizada com alunos de duas turmas do curso de Pedagogia Séries Iniciais da Universidade de Passo Fundo, uma do campus de Casca e outra do campus de Lagoa Vermelha.
Considerando que a maioria dos educadores não possui domínio das tecnologias e por isso não tem condições de utilizá-las em todo o seu potencial libertador, a pesquisa tem o intuito de evidenciar uma realidade mais próxima, a dos professores em formação, ou dos futuros profissionais da educação básica inicial da nossa região.
O questionário abrange 26 itens e solicita informações com vista à elaboração de um levantamento sobre as potencialidades do uso da Informática na Educação a partir de dados e informações coletados junto ao grupo de professores em formação. No total foram 53 respondentes 4 professores/tutores (que enviaram o questionário totalmente em branco) e 49 alunos do curso de Pedagogia Séries Iniciais, dos quais 22 pertencentes ao Campus de Casca e 27 de Lagoa Vermelha. A idade dos alunos varia entre 20 e 50 anos (apenas 2 com idade acima de 50 anos), com maior concentração entre 20 e 34 anos de idade e apenas 1 é do sexo masculino. Muitos já atuam no magistério (31 professores com 1 a 30 anos de experiência), enquanto outros não têm nenhuma experiência com sala de aula e alguns são funcionários de escola.
Aparentemente, esses dados fazem presumir dois motivos que levam professores já inseridos no mercado de trabalho a fazer o curso de Pedagogia: a necessidade de formação específica para melhorar na sua área de atuação e a exigência (extinta a partir de 2003) da LDB em seu artigo 67 que diz que todo professor deveria ter graduação em licenciatura até 2007.

a) Quanto à participação em cursos de Informática/Computação (Questões 1, 2 e 3 – Figura 1)

 
Nas primeiras três perguntas, as respostas demonstraram o grande interesse dos alunos pela busca de informações sobre as técnicas de utilização do computador e a necessidade de estar atualizado para realizar atividades mais pessoais, do dia-a-dia, e também da escola, independentemente da escola disponibilizar recursos e tempo, as pessoas estão buscando por vontade (ou necessidade) própria. Mas, o fato de 24,5% não ter realizado curso de informática, por falta de tempo ou recursos financeiros, não significa que não tenham acesso ou não saibam utilizar o computador, pois uma geração de professores atuantes começou rodando mimeógrafo ao passo que os mais jovens estão mais familiarizados às novas tecnologias.
Portanto, mesmo que as políticas públicas para a educação tecnológica não atinjam todas as regiões com recursos, percebe-se um movimento pessoal, apesar das dificuldades financeiras, na procura de alternativas criativas para solucionar as carências ao nível de conhecimento tecnológico, sobretudo com relação à utilização do computador.

b) Quanto à frequência de utilização do computador (Questões 4, 5 e 6 – Figura 2)

Sobre a frequência de utilização do computador com finalidades didáticas, verifica-se que os entrevistados, num ranking de 1 a 5, utilizam o computador com maior frequência para comunicar-se através de e-mails (uma tendência e uma quase necessidade se compararmos aos custos de uma ligação telefônica), em segundo para trabalhos administrativos (racionalização de tempo e custos) e em terceiro para a pesquisa de temas, e esta é que chama a atenção, pois o computador possibilita, como "máquina universal", o acesso a bancos de dados, que de outra forma, ficariam muito distantes da escola. Segue-se uma pontuação significativa para temas associados à resolução de problemas, simulação de fatos e fenômenos, material didático, etc., podendo-se dizer, associados à gama de funcionalidades permitidas pelo computador, sempre com um interesse de construir novas possibilidades educativas.
Percebe-se que os alunos-professores não estão preocupados apenas em "dominar" a máquina, mas também, extrair dela o que precisam para suas atividades, beneficiando-se e aprimorando seu trabalho. E, somente não é mais intenso este convívio com o computador porque lhes falta experiência e ainda há dificuldade de acesso ao computador, falta de estímulo também é mencionada, mas não é tão representativa diante de um contexto profissional muitas vezes desmotivador (aspecto financeiro), como o vivido hoje pelo professor.
Fora do ambiente escolar, ou seja, das atividades didáticas, também fica claro a importância do computador para a comunicação através da exploração da rede mundial, internet, para navegar e trocar e-mails, e aí entram interesses pessoais dos mais variados. É interessante constatar que tanto para uso didático ou pessoal e profissional, a busca, investigação ou pesquisa e a comunicação aparecem em primeiro lugar, o que por sinal parece envolver crianças, jovens e adultos na sociedade como um todo. Não seria, talvez, essa forma envolvente e participativa, a explicação para a utilização do computador na escola como um instrumento de exploração e produção de saberes?

c) Quanto à utilidade do computador nas atividades didáticas (Questões 7, 8 e 9 – Figura 3)

Dos entrevistados, 79,2% consideram o computador útil em suas atividades didáticas, porque os mantém atualizados (acredito que estejam comparando ao conhecimento tecnológico exigido na atual sociedade da informação, ao qual os alunos estão "ligados"), ainda demonstram estarem conscientes que o computador é um fator de motivação entre os alunos e cria maior interação entre docentes e alunos, o que contribui de forma importante para melhorar o desempenho profissional do professor.
Apenas 1,9% acha que o computador não tem muita utilidade didática, por vários motivos, mas, sobretudo, por medo e resistência, pois consideram que o computador reduz o papel do professor, dispersa os alunos e consome mais tempo de preparação de aulas, entre outros motivos não especificados.

d) Discussões sobre o tema Informática e Educação (Questões 10, 11 e 12 – Figura 4)


Nas questões sobre que problemáticas geram discussões sobre o tema Informática e Educação nas escolas, o quadro demonstrado é animador. Todos os temas apresentados receberam uma pontuação de 1,6 a 3,5 dentro do ranking de 1 a 5. Isso significa que o nível de discussão está envolvendo e ocupando os vários aspectos que envolvem a utilização da informática na escola: financeiros, sociais e educacionais. Os alunos-professores estão preocupados sobretudo com sua formação e capacitação, estão falando sobre isso e buscando dentro dessa sociedade da informação, apesar da escassez de recursos tecnológicos (nem sempre disponíveis para todos), adaptar-se à realidade e buscar alternativas.
É possível dizer que o nível de discussão evidenciado tem contribuído muito para a percepção dos professores de que a Informática, através do computador, vai entrar sistematicamente no seu trabalho, pois entendem que não somente em atividades administrativas ou isoladamente por alguns professores, mas em todas as disciplinas e através de projetos interdisciplinares será introduzido o computador como ferramenta de trabalho, conforme demonstra o gráfico.
Porém, quando questionados sobre a probabilidade de obstáculos num processo de informatização das atividades didáticas nas escolas de trabalho, dentro do ranking de 1 a 5, obteve-se pontuação entre 2,9 e 3,8, índices altos que evidenciam entraves organizacionais, econômicos, didáticos, metodológicos, institucionais, psicológicos e outros não citados. O mais destacado foi quanto a aspectos organizacionais como falta de laboratório, de professores e técnicos de manutenção dos equipamentos.

e) Necessidade de atualização na área de informática (Questões 13, 14 e 15 – Figura 5)


Confrontando com a primeira pergunta, onde 64,2% já realizaram cursos de informática, encontramos uma importante semelhança, agora 77,4% dizem que pretendem aprofundar seus conhecimentos na área de informática visando aplicações didático-pedagógicas, e apenas 7,5% somente para conhecimentos gerais. Isso traduz a coerência das respostas e a sensibilização dos entrevistados com relação a sua responsabilidade no papel de (futuros) professores.
Também demonstram interesse em utilizar o computador de forma efetiva em atividades didáticas, principalmente num ambiente de colaboração e participação dos colegas professores, muito mais que trabalhar individualmente.

f) Tipos de programas utilizados (Pergunta 17, 18 e 19 – Figura 6)


Sobre a freqüência de utilização de programas, os editores de texto destacam-se em primeiro lugar, seguidos dos jogos e em terceiro aparecem os programas didáticos. Depois, os mais usados são os navegadores web, programas de comunicação e programas de apresentação de slides. É um movimento consciente, pois os alunos-professores estão, aos poucos construindo sua base, eu diria, experimentando-se nesse processo de informatização da escola, explorando os vários recursos oferecidos pela máquina, que muito mais que um objeto estático, possibilita uma gama muito grande de práticas integradoras.
E, o mais impressionante, é que os alunos-professores estão criando suas próprias aplicações didáticas, por mais simples que possam parecer, elas sugerem sempre a influência de características pessoais, tanto dos professores como dos alunos e da realidade da sala, da escola, da região, etc., permitindo uma educação mais contextualizada, mais concreta.
Acredito que essas novas atividades permitem novas perspectivas de trabalho na escola e como resultado de muito esforço pessoal (cursos específicos, experiências, leituras, contatos, grupos interdisciplinares), como responderam, não são apenas uma necessidade momentânea, manifestam, sim, uma realidade em transformação crescente e consciente.

g) Aspectos positivos e negativos (Questões 21 e 22)
Dentre os principais aspectos positivos e negativos das experiências vividas com o computador, houve 40 manifestações de aspectos positivos e 29 sobre aspectos negativos. Dentre as experiências positivas, evidenciam-se os aspectos funcionais do computador, racionalizando tempo, diversidade de recursos, flexibilidade, agilidade, organização, participação (motivação), maior interação aluno e professor, atualização. De forma negativa, surgiram manifestações sobre falta de conhecimento e dificuldade de acesso por falta de recursos pessoais ou das escolas, pouca experiência. Ou seja, os professores estão envolvidos, mas ainda falta um planejamento na escola sobre o uso do computador.
Interessante é constatar que, através do curso de Pedagogia, os próprios acadêmicos avaliaram de forma bastante crescente a sua experiência com o computador nas atividades didáticas, de uma pontuação 2,0 para 3,8, um crescimento de quase 50%. Isso significa que, o estudo, debate e análise das práticas pedagógicas envolvendo o computador contribuem para o aprimoramento e implementação de novas práticas, exatamente o que os alunos analisados, professores em formação, estão buscando através da universidade, mas lá na ponta, na escola, este espaço existe?... Bem, não é a análise em questão, mas com certeza, esses professores estão motivados e entusiasmados com a possibilidade de novas práticas e sedentos por encontrar uma escola aberta ao debate de suas idéias.

Considerações finais

Frente à nova sociedade do conhecimento, surge na escola a preocupação com o tipo de cidadão que estamos preparando. Exatamente neste contexto se insere o uso do computador em sala de aula como mais um recurso didático-pedagógico capaz de criar ambientes de aprendizagem motivadores para alunos e, ao mesmo tempo, desafiadores para o professor.
Ser professor no contexto atual é, portanto, ter consciência de estar formando pessoas, respeitando diferenças, promovendo espaço para a descoberta do novo, da criatividade, da promoção humana e da cidadania, tornando os alunos protagonistas e não apenas espectadores na construção de uma sociedade melhor.
Discutir a aplicabilidade do computador em educação já não é mais apenas uma tendência, é uma necessidade, que se torna realidade em cada grupo de estudo ou encontro de trabalho, tanto nas universidades quanto nas escolas em geral.
É perceptível os reflexos desta nova sociedade na escola, não apenas nos alunos, mas também os futuros profissionais da educação estão buscando cada vez mais uma atualização constante frente às novas tecnologias. Isso porque tecnologias de todo o tipo estão chegando às escolas, mas, quando se fala na utilização do computador, ainda se encontra a resistência e o medo de muitas pessoas, mas, também, a falta de informação para que o professor possa entender e participar desse processo de forma crítica e criativa.
Observou-se, junto aos professores em formação uma preocupação quase que unâmine em compreender a utilização do computador na escola, ou seja, entender por que e como integrar o computador em suas práticas didático-pedagógicas, de forma que professores e alunos possam, por meio da tecnologia, construir seus próprios conhecimentos, uma mudança requer aprendizado e reflexão constante, também, sobre as potencialidades do computador, a fim de que possa contribuir para a modificação do fazer pedagógico.
Consciente de seu papel social de formador, a preocupação dos alunos-professores em procurar se apropriar da tecnologia está relacionada à necessidade de criação de ambientes favoráveis ao desenvolvimento de novas práticas pedagógicas e à construção conjunta do conhecimento e não simplesmente ao medo de ser superado pela tecnologia, não obstante todo o avanço tecnológico.
Os alunos-professores parecem compreender que seu trabalho não poderá mais ser concebido isoladamente, mas em conjunto com os colegas e a partir de proposições mais amplas da tecnologia que extrapolam os limites de uma disciplina ou de uma sala de aula. Isso porque, conscientes no seu papel de aprendizes sociais, o grupo de alunos-professores, sujeitos desta pesquisa, demonstram saber a importância da tecnologia e de seu papel na nova sociedade e, ao mesmo tempo, revelam com clareza os seus entusiasmos e limites para enfrentar tais mudanças.

Referências bibliográficas

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BRANDÃO, Edemilson Jorge Ramos. Informática e Educação: uma difícil aliança. Passo Fundo: UPF, 1995.
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BRASIL. Lei n.º 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
DOWBOR, L. O espaço do conhecimento. In: A revolução tecnológica e os novos paradigmas da sociedade. Belo Horizonte, IPSO, 1993. Educação, tecnologia e desenvolvimento. In: BRUNO, L. (Org.). Educação e trabalho no capitalismo contemporâneo. São Paulo, Atlas, 1995.
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MASETO, M. Pós-Graduação e formação de professores. Rev. ANDE, 1994, p.55-60.
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WEISS, Alba Maria Lemme; CRUZ, Mara Lúcia Reis Monteiro da. A informática e os problemas escolares de aprendizagem. Rio de Janeiro. DP&A, 1998.

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