O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades." (Stan Lee, em Homem-Aranha) Qualquer adulto nascido antes de 1980 se surpreende ao ver a naturalidade com que os jovens (e as crianças) de hoje lidam com tecnologia. Eles mal pegam em um celular e já sabem mudar o tema, o lugar dos botões, enviar mensagem com fotos (e baixar e armazenar as fotos, evidentemente!) enquanto ficamos zonzos tentando descobrir onde estão os botões que fazem tudo isso. São os nativos digitais (Prensky, 2001). Verdade seja dita, muitos de nós, pré-1980, verdadeiros imigrantes digitais com maior ou menor fluência nessa nova cultura, também nos perguntamos qual é a necessidade de mudar tanto botão de lugar ou de se preocupar com o fundo de tela — até que aprendemos a fazer isso e também saímos em busca de uma imagem que nos agrade. Evidentemente, não é só isso que os nativos digitais sabem: eles aparentemente conseguem ler na tela, seja ela grande ou pequena, ouvir música, participar de trocas de mensagens instantâneas, fazer pesquisas ou uma compra, tudo ao mesmo tempo. Eles marcam seus encontros pelos sites de relacionamento com todos os amigos, colegas e desconhecidos interessantes simultaneamente, e partilham suas emoções e fotos de forma coletiva. Eles pensam e processam informação de maneira diferente de nós, imigrantes digitais com sotaque mais forte ou menos perceptível. Os nativos digitais lidam com informação demais para quem já assistiu a uma Copa do Mundo em TV preto e branco com chuvisco (ou, quem sabe, a acompanhou por rádio), para quem esperava ansiosamente o telefone fixo voltar a funcionar para poder falar com os amigos (um de cada vez, se o seu telefone não estivesse ocupado), para quem já levou a agendinha em papel para usar um orelhão de ficha, para quem ouviu música em vinil, fita K7 ou CD, ou para quem se maravilhou com o avanço tecnológico que a fotocópia representou perante o mimeógrafo. Mesmo assim, não precisamos ficar estarrecidos diante dessa geração, achando que não temos mais nada a lhe ensinar. Prensky pode defender com bastante propriedade que é difícil atrair a atenção de nativos digitais, mas há conteúdos, conceitos, posturas e habilidades que ainda precisam ser desenvolvidos entre muitos nativos digitais. Não há porque nos intimidarmos diante da velocidade do mundo atual e confundirmos isso com uma noção de que não há mais nada a ensinar. Vejamos alguns conceitos que ainda podemos discutir e desenvolver junto a essa geração: 1. Que copiar e colar é a primeira etapa de um trabalho de pesquisa, mas que, para se fazer pesquisa de fato, é necessário saber de onde se retirou o material, analisar, comparar, sintetizar e, realmente, elaborar os próprios trabalhos. 2. Que não é qualquer fonte que é confiável. Se o jovem copiou e colou, tem de saber de quem, de onde, o que essa pessoa/instituição escreveu e com que objetivo. 3. Que linguagem de Internet com abreviações é excelente para ser usada na Internet, com os amigos, mas linguagem formal e escrita é outra coisa e também merece ser aprendida. 4. Se é tão fácil digitar e editar textos, por que não reescrevê-los até ficarem claros, coerentes, de acordo com a norma culta da língua e eficazes perante o seu público-alvo? 5. Que, para realizar algumas tarefas, é importante se concentrar. Em alguns momentos, é preciso desligar o MSN ou a música. 6. Que nem tudo na vida é fácil e rápido, às vezes temos de enfrentar certas dificuldades e insistir um pouco para resolver problemas. 7. Que todas as fotos colocadas na Internet ficam lá para sempre: é melhor pensar na imagem de si que estão deixando para o mundo. 8. Que não se deve divulgar as próprias senhas nem para os melhores amigos. 9. Que certas informações — nome completo, endereço, telefone, local em que se estuda — não devem ser fornecidas em perfis públicos na Internet. 10. Que é preciso dormir, comer, falar com as pessoas à sua volta, responder e interagir quando é chamado — e entender que imigrantes também têm histórias para contar… Como vemos, trata-se de ensinamentos que não exigem que se tenha total domínio da tecnologia. São orientações necessárias a muitos jovens e crianças que têm tantas habilidades mas ainda não têm experiência suficiente para compreender as consequências de algumas de suas atitudes. Não é à toa que o próprio Prensky cita ética, política, sociologia e línguas como temas "do futuro", com os quais os nativos digitais terão de lidar muito e bem. Referências bibliográficas PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, MCB University Press, v.9, n. 5, out. 2001. Disponível em:<http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf> Acesso em:05 abr. 2010. |
O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais
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